Autor: Isabel Gardenal
Imagens: Isaías Teixeira
Edição de imagem: André Vieira
Setenta e cinco por cento dos dependentes químicos estão no mercado de trabalho no Brasil e 1 em cada cinco acidentes de trabalho é provocado pelos efeitos resultantes do uso de drogas como o álcool, por exemplo. Uma importante iniciativa da Unicamp nessa frente é desenvolvida pelo Programa Viva Mais, ligado ao Centro de Saúde da Comunidade (Cecom). Graças a essa expertise, foi lançada, na manhã desta sexta-feira (10), uma cartilha com “Orientações a gestores sobre dificuldades relacionadas ao uso de álcool e outras drogas no ambiente de trabalho”. O lançamento ocorreu no auditório do GGBS.
A cartilha divulga as formas de prevenção, as substâncias psicoativas, dados epidemiológicos, o que é a dependência, as drogas lícitas e ilícitas, o papel da família e da chefia, e o tratamento. O Programa Viva Mais realiza um trabalho de rotina com os dependentes químicos em parceria com o Ambulatório de Substâncias Psicoativas (Aspa) do HC, a Divisão de Saúde Ocupacional (DSO) da Diretoria Gerral de Recursos Humanos (DGRH) e o GGBS. Juntos formam uma rede que fornece atendimento, orientações e subsídios ao funcionário, familiares, interessados e gestores que lidam de perto com a abordagem dessa problemática no seu dia a dia.
A psiquiatra Renata Cruz Soares de Azevedo, coordenadora do Viva Mais, ministrou uma palestra durante o evento de lançamento da cartilha. Falou a um público de cerca de 70 pessoas. Trouxe uma revisão acerca do uso de drogas no Brasil e as suas interfaces.
A médica disse que é impossível falar de saúde mental sem falar de dependência química. Ao mostrar dados intrigantes, destacou que infelizmente hoje a média de idade em que se começa a experimentar drogas no país é 11,5 anos. Comentou também que a abstinência pode levar à morte em 5% da população. “Não podemos ignorar que a abstinência é um fator de grave impacto, principalmente para quem consome álcool”, revelou. “As drogas mais comumente usadas são a cafeína e a nicotina.”
Renata sinalizou que muitos jovens, por desconhecerem os efeitos das drogas, promovem uma verdadeira alquimia, misturando diferentes famílias de drogas, que têm ação no Sistema Nervoso Central (drogas depressoras, estimulantes e perturbadoras), o que pode levar a uma fatalidade. “E essas drogas agem justamente no circuito do prazer, gerando fissura e agindo na área cerebral em que se situa o afeto”, assinalou.
Ela contou ainda que a Universidade tem se preocupado com o assunto, por acreditar na relevância que o ambiente de trabalho tem na vida das pessoas (estudantes e servidores), que passam grande parte do dia nas repartições e na universidade. “Quando a dependência química não consegue ser controlada, deve-se buscar apoio”, frisou. “Podem ser indicativos de que a pessoa está fazendo uso de drogas ansiedade atípica e problemas na cognição.”
A médica contou que é preciso, em grande parte, desmistificar que as drogas estão presentes apenas nas camadas da população mais desfavorecidas economicamente. “Quanto mais dinheiro, pior o padrão de uso”, frisou. “Hoje também as mulheres bebem tanto quanto os homens, ainda que ocasionalmente, sobretudo nos happy-hours.”
Parcerias
Na mesa de abertura do lançamento da cartilha, o chefe de Gabinete da Universidade Paulo César Montagner afirmou que a Unicamp está procurando enfrentar esse assunto de forma a apoiar as pessoas no trabalho. Reconheceu que é difícil tratar dessa situação, mas que isso se trata de uma situação real. Ele acredita que muitos acabam tratando essa problemática de modo intuitivo, pelo sentimento. Em sua opinião, é preciso buscar conhecimento técnico. “Com a chegada da nova cartilha, a Unicamp contribui dando mais um passo nessa direção, de ajudar quem necessita”, acredita.
A cardiologista Patrícia Asfora Falabela, diretora do Cecom, comentou que esse é um dia no qual se concretiza efetivamente uma ação diante de uma dificuldade que é a luta dos dependentes químicos. Segundo ela, a dependência é a conjunção entre o álcool (ou outra droga), uma pessoa de personalidade vulnerável e o meio em que ela vive. “A junção desses fatores aumenta as chances da dependência química”, abordou. “Com o Planes do Cecom, entendemos o valor das ações educativas e temos investido nelas.”
Maria Aparecida Quina de Souza, coordenadora da DGRH, relatou que seu órgão atua com uma equipe multiprofissional que fornece apoio para diversos assuntos, inclusive para as drogas psicoativas. “Funcionários e alunos sob efeito de drogas podem realizar procedimentos inseguros, têm mais conflitos, queda do rendimento, ficam mais propícias a acidentes, problemas de relacionamento, perda de materiais. Vemos que o tema é complexo, mas é passível de atividades preventivas”, garantiu.
Selma Cesário, assistente social do GGBS, ressaltou que esse é um momento muito importante para a Universidade porque ela conseguiu realizar um trabalho de anos de observação. “Com a integração de diferentes áreas, temos agora na cartilha um material de apoio para os funcionários que precisam de acolhimento. Esse material é consistente e representa um salto no acolhimento às pessoas na esfera pública.”