Campanha de Prevenção do Câncer de Intestino Grosso reduz em 80% o número de pólipos na Unicamp

Campanha de Prevenção do Câncer de Intestino Grosso reduz em 80% o número de pólipos na Unicamp

Com mais de 19 mil testes realizados entre 2012 e 2016, a Campanha de Prevenção do Câncer de Intestino Grosso, idealizado pelo Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) e o Gastrocentro da Unicamp, alcançou um resultado positivo na comunidade interna da universidade: em cinco anos de trabalho, a campanha reduziu em 80% o número de pólipos, lesão benigna que pode se degenerar e evoluir para câncer, demorando até 10 anos para se manifestar.

Quando detectado precocemente, o câncer do intestino grosso apresenta um bom prognóstico. Pioneira no país, a Campanha inicia o rastreamento de pólipos e tumores malignos a partir dos 50 anos, pois a maior incidência ocorre após os 60 anos de idade. A diretora médica do Cecom, Dra. Tâmara Maria Nieri, ressalta a importância de realizar este tipo de campanha de prevenção dentro das unidades: “nós sabemos que o câncer de intestino grosso, em 90% dos casos, começa com uma lesão benigna, que é o pólipo. Se você tirar o pólipo, não desenvolve câncer”, comenta.

De acordo com a pesquisa “Incidência de Câncer no Brasil”, realizada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer do cólon e reto é o segundo mais incidente para as mulheres, e o terceiro para os homens. A estimativa ainda apontou mais de 34 mil novos casos no ano de 2016.

HISTÓRICO

A ideia de realizar uma campanha preventiva surgiu quando o Dr. Cláudio Coy, livre docente em Coloproctologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, atendeu diversas pessoas com quadro avançado de câncer de intestino grosso. Sabendo que este tumor pode ser prevenido, caso seja diagnosticado precocemente, o Cecom, em parceria com o Gastrocentro, começou a desenvolver o modelo e a logística deste projeto.

Logo, a campanha iniciou suas atividades na universidade com um projeto piloto, em 2011, onde operou em cinco unidades no campus de Barão Geraldo. A partir de 2012, todas as unidades e institutos da Unicamp foram incluídos. Em média, são entregues 3.900 envelopes nominais por ano, contendo um kit e instruções necessárias para realizar o teste.

Os motivos para o aumento da incidência podem ser associados aos hábitos não saudáveis de vida. “Sedentarismo, dieta pobre em fibra, excesso de carne vermelha, produtos industrializados, tudo isso pode ser considerado um fator de risco”, afirma Dra. Tâmara.

Enfermeiras do CECOM realizando a leitura do teste de sangue oculto nas fezes, método que permite a detecção de possíveis pólipos e tumores.

SUPERAÇÃO

Foi através da campanha que a recepcionista da Clínica Odontológica do Cecom, Maria Luiza Dias, 52, descobriu que tinha pólipos. A funcionária, que realizava o teste desde os 50 anos de idade, sentiu-se aflita no início. Apesar da situação delicada, o diálogo e o atendimento prestado pelos facilitadores a ajudou. “O dia que eu peguei o resultado e vi que era positivo, chorei muito. Mas o Dr. Rogério conversou comigo e me tranquilizou. A Dra. Tâmara conversou comigo também, tanto que agora fiz a colonoscopia. A disponibilidade que eles têm para esclarecer as suas dúvidas é muito bom”, ressalta.

A coordenadora do Cecom, Dra. Patrícia Asfora Falabella Leme, reconhece que os benefícios de investir em campanhas de prevenção tornam-se evidentes a longo prazo. “Há um esforço considerável, tanto do Cecom, com a parte da gestão e da própria operacionalização da campanha, quanto do Gastrocentro, com a questão do academicismo e da colonoscopia. É uma estrutura grande para manter essa campanha, porém, o benefício é gigante”, afirma.

A redução de gastos com cuidados paliativos também diminui, afirma Dra. Tâmara. “Em seis anos, nós não temos mais nenhum tumor. Então nós economizamos muito. Vale a pena você investir, porque em médio prazo você reduz os gastos”.

Além da promoção da saúde e da prevenção, a Campanha possui um grande desafio: conscientizar os funcionários sobre a importância de realizar o teste. Para a Dra. Tâmara, os maiores desafios são as barreiras sociais. “Nós barramos nas dificuldades humanas, pois nós estamos falando de câncer e que a pessoa está com 50 anos ou mais. Você fala de câncer, fala de fezes. A pessoa tem que olhar para as próprias fezes e algumas não gostam nem de olhar, então são assuntos incômodos”.

Após ter superado o medo, a recepcionista Maria Luiza afirma que o apoio recebido durante a campanha foi essencial para que ela pudesse compreender melhor o assunto e seguir em frente. “A gente percebe que não estamos sozinhos no mundo, e que tem alguém ali para te ajudar”, comenta.